Ao que parece, o autor inglês, para a sua história, baseou-se nas experiências reais de dois náufragos. O primeiro foi o capitão espanhol Pedro Serrano, o qual, após a sua embarcação ter naufragado, passou oito anos da sua vida isolado numa ilhota das Caraíbas, até ser resgatado em 1534. O segundo, a quem Dafoe chegou a entrevistar, a fim de recolher dados para o seu romance, foi o marinheiro escocês Alexander Selkirk, resgatado em 1709, após ter passado quatro anos na ilha hoje denominada Robinson Crusoe, situada no arquipélago de Juan Fernández, em território do Chile.
A ilha de Robinson Crusoe foi descoberta pelo espanhol Juan Fernández, navegante oriundo de Cartagena (Múrcia), em 1574. Antigamente, o seu nome era “Más a Tierra” (ou “Más Atierra”), até que, em 1966, foi oficialmente rebatizada com o nome do famoso náufrago da ficção, em homenagem àquele que é considerado o romance inglês mais popular de todos os tempos (e o segundo livro mais lido, depois da Bíblia).
Em finais do século XIX, nenhum outro livro na história da literatura ocidental teve mais êxito do que Robinson Crusoe, com mais de 700 reimpressões, traduções e imitações. Esta obra pode ser considerada o primeiro grande romance que mostra a vontade e os recursos do ser humano para sobreviver em ambientes hostis.
A Ilha Robinson Crusoe está integrada no Parque Nacional do Chile, desde 1935, e é também Reserva da Biosfera, por declaração da UNESCO, desde 1977. Na ilha existe uma grande quantidade de espécies endémicas (flora e fauna), o que suscita um grande interesse científico a nível mundial, (embora muitas destas espécies estejam ameaçadas de extinção). Entre elas estão o beija-flor vermelho ou colibri, o lobo-marinho, e algumas espécies peculiares de couves e de fetos. Como dado curioso, refira-se que esta ilha é 61 vezes mais abundante do que as Ilhas Galápagos no que se refere a espécies de plantas endémicas e possui 13 vezes mais aves.
Para viajar até à ilha podemos utilizar as linhas regulares existentes desde Santiago do Chile e Valparaíso (operadas pela ATA, LASSA e AEROCARDAL), com uma duração de voo de menos de duas horas desde o continente. O alojamento está garantido numa vasta gama de estabelecimentos variados e de qualidade, que vão desde cabanas, apartamentos, bed&breakfast, hostéis e pousadas.
Uma vez lá, alguns pontos de visita obrigatória são a Gruta de Robinson Crusoe, o Miradouro de Selkirk (onde se supõe que o escocês subia com a intenção de avistar navios no horizonte), o Forte de Santa Bárbara (construído pelo governo espanhol no ano de 1749, com o objetivo de impedir que as ilhas do arquipélago servissem de proteção aos piratas e corsários que assolavam as costas da América) e o Povoado de São João Batista, único núcleo urbano, onde há que destacar o grande calor e amabilidade dos seus 500 habitantes. É aqui que poderemos saborear o prato mais famoso da ilha: a lagosta, juntamente com caranguejos dourados, além dos seus peixes clássicos (chicharro e besugo).
Se a sua preferência for o trekking, poderemos aproveitar e caminhar ao longo dos numerosos percursos existentes, rodeados de exuberante e bela vegetação. A sucessão de frondosos bosques, imponentes penhascos, praias paradisíacas e vestígios de rochas vulcânicas faz da caminhada a atividade mais favorável a desenvolver na ilha e, em algumas ocasiões, é obrigatório fazê-lo com guias acreditados, pelo altíssimo valor do ecossistema da zona. Se gostar de mergulhar, esta é uma das áreas com melhor visibilidade do Chile, com abundante fauna marinha e brincalhões lobos-marinhos, assim como com o couraçado alemão “Dresden”, afundado naquele que foi o primeiro combate naval da 1.ª Guerra Mundial.
Em consequência do terramoto de 27 de fevereiro de 2010, a ilha foi assolada por um tremendo tsunami de 5 metros de altura, que destruiu grande parte de São João Batista e provocou a morte a dezasseis pessoas. Não houve mais vítimas, graças a uma menina de doze anos que conseguiu alertar os vizinhos, tocando a campainha e salvando assim muitas pessoas daquela devastadora onda gigante.
Estes últimos anos têm sido para os habitantes da ilha um constante esforço para melhorar as infraestruturas, visando reativar as visitas turísticas, não só dos cruzeiros de passagem, mas também dos que se decidem a permanecer vários dias na ilha, desenvolvendo atividades desportivas, recreativas…
É o momento de visitar a Ilha Robinson Crusoe. As suas espetaculares paisagens naturais, no meio do Pacífico, seguramente que nos marcam para sempre. E que há de melhor do que incluir na nossa mala um exemplar do livro de Dafoe e lê-lo no seu “habitat natural”!